Metais Preciosos

Tipos de Ligas de Prata e suas Aplicações

Tipos de Ligas de Prata

A Prata é um dos metais mais fascinantes e úteis para o ser humano. Conhecida desde a pré-história, foi utilizada como reserva de valor, moeda, meio de troca e na confecção de objetos e utensílios variados na antiguidade, e na era moderna seus usos se expandiram em diversas aplicações na indústria, joalheria e até mesmo na medicina, tornando esse metal um material de grande importância para a sociedade moderna.

Porém, a prata, assim como o ouro, são metais nobres altamente maleáveis e dúcteis, o que significa que podem ser facilmente trabalhados mecanicamente – e também que se deformam com facilidade com o manuseio. Por conta disso, não é comum o emprego da prata pura na fabricação de objetos, como jóias e moedas circulantes* , por exemplo, sendo em seu lugar empregadas ligas de prata – misturas da prata com outros metais, como cobre, ouro, paládio, estanho, mercúrio e outros, em proporções variadas, cada qual sendo utilizada em uma ou mais aplicações específicas.

Neste artigo trago uma introdução às ligas de Prata, suas composições e onde são empregadas

*a prata não é mais utilizada em moedas que circulam, apenas em peças comemorativas e como bullion, peças para investimento.

Ligas de Prata

A prata, em sua forma pura, é um metal nobre, brilhante e maleável, mas raramente usada sozinha devido à sua suavidade, o que a torna impraticável para muitas aplicações. Por isso, ao longo da história, diferentes ligas foram desenvolvidas para conferir maior durabilidade, resistência à corrosão ou até mesmo novas propriedades químicas e físicas ao metal. Cada uma dessas ligas tem sua própria história, usos e características que refletem necessidades específicas de diferentes épocas e culturas.

Vejamos algumas das principais ligas de prata que foram desenvolvidas e utilizadas ao longo do tempo.

Amálgama

Uma das ligas mais importantes, porém controversas da história é a amálgama de prata, uma mistura peculiar de prata (de 20 a 30%) e mercúrio (podendo conter outros metais, como estanho e cobre), que ganhou notoriedade tanto na extração de prata das minas coloniais quanto na odontologia.

Durante séculos, os espanhóis exploraram esse processo para separar a prata do minério bruto, uma técnica eficiente, mas devastadora para a saúde dos trabalhadores, que lidavam diariamente com vapores tóxicos.

Uma propriedade interessante da amálgama é que ela, ao ser criada, é bastante maleável e fácil de manipular, mas gradualmente a liga se expande e endurece. Por conta dessa propriedade, é utilizada em odontologia para fazer obturações dentárias. No entanto, preocupações com intoxicação por mercúrio levaram seu uso a ser reduzido ao longo dos anos, sendo gradualmente substituída por outros materiais.

Uma das ligas modernas que substitui a amálgama dentária é chamada de Pratalloy, composta por 80% Ag, 19% Sn e 1% Cu (Prata, Estanho e Cobre, respectivamente).

Argentium

Uma inovação moderna no mundo da prata é a Argentium, uma liga patenteada que permite elevar a qualidade da prata esterlina ao incorporar o elemento químico germânio (Ge) em sua composição, nas proporções de 93,5%, 94% ou 96% de prata, e 1,2% germânio, além de cerca de 5% de cobre. Isso resulta em um material altamente resistente à oxidação e manchas, tornando-se uma escolha ideal para joalheiros que desejam um brilho mais duradouro e menos manutenção das peças.

Também conhecida como Argentium Sterling, essa composição diferencia a liga de outras pratas comerciais, e isso a torna bastante apreciada por quem busca uma liga metálica de alta performance, encontrando uso principalmente em joalheria de alta qualidade, e também na fabricação de talheres e peças decorativas.

Talheres de Prata Argentium. Imagem: www.argentiumsilver.com
Talheres de Prata Argentium. Imagem: www.argentiumsilver.com

Dependendo da quantidade de prata na liga, ela será conhecida pelos nomes Argentium 935 (que é a menos comum), Argentium 940 ou Argentium 960, sendo que esta última possui fineza de prata superior à da prata Britânia – descrita mais à frente no artigo.

Billon

Billon, ou Bilhão em português, é uma liga de uma pequena quantidade de um metal precioso, geralmente a prata, com um metal base como o cobre. Este tipo de liga encontra uso primariamente usado na fabricação de moedas, medalhas e outros itens similares, geralmente em épocas de desvalorização monetária ou escassez de metais nobres. Foi muito usada na Antiguidade e Idade Média

Em termos de composição, uma liga é considerada billon quando possui baixo teor de prata, com menos de 50% desse metal presente no material. Um exemplo de uso são as moedas de 5 centavos de dólar dos EUA (“Jefferson War Nickels”) cunhadas entre 1942 e 1945, durante a Segunda Guerra Mundial, que continham 35% de prata, 56% de cobre e 9% de manganês. Em casos raros, a liga billon pode ser feita com ouro em vez da prata.

Moeda Bizantina de Billon
Moeda “Trachy” em Billon, Império Bizantino, c. 1208-1222

A palavra billon vem do francês, derivado do latim bille, que significa “lingote”.

Britânia (Britannia)

A liga de Prata Britannia é uma das ligas mais nobres em circulação, possuindo 95,833% de prata pura, com o resto da liga sendo cobre. Trata-se de um padrão introduzido no Reino Unido por um Ato do Parlamento em 1697 com o intuito de substituir a prata esterlina (que possui 92,5% de prata) como padrão obrigatório para itens de prata forjada. É denotada pela marca de fineza 958 (portanto, prata 958 ou Ag 958).

Apesar de seu brilho superior, sua suavidade limitou sua utilização, sendo mais comum na cunhagem de moedas comemorativas e peças de coleção e alta ourivesaria, principalmente no Reino Unido, do que em objetos de uso cotidiano.

A Casa da Moeda Real Britânica (Royal Mint) cunhou moedas de prata “bullion” com prata Britannia até 2012 (as famosas “Britannias”), mas desde então essas moedas tem sido cunhadas com prata pura com .999 de fino.

Moeda de 2 Libras Esterlinas de 2011, do Reino Unido, em Prata Britannia (.958)
Moeda de 2 Libras Esterlinas de 2011, do Reino Unido, em Prata Britannia (.958) Imagem: The Royal Mint

Decoplata

Liga de prata com pureza de 720 milésimos (Ag .720 ou 72% de prata), também chamada às vezes de “Prata Mexicana”, foi usada algumas vezes ao longo da História na cunhagem de moedas em países diversos.

Exemplos incluem os Guldens holandeses usados em suas colônias nas índias Orientais a partir de 1854, a Rúpia de Goa cunhada pelos portugueses para circulação nesta colônia, em 1862, e moedas variadas de Pesos mexicanos usadas a partir de 1919 até 1987, entre outros.

Essa liga praticamente não é mais usada nos dias atuais.

Electrum

Já no campo das ligas naturais, o electrum ocupa uma posição de destaque. Encontrado naturalmente em jazidas minerais, essa combinação de ouro e prata de composição bastante variável (ouro 50–80% e prata 20–50%, podendo possuir traços de outros metais como o cobre), foi usada desde a antiguidade em moedas e joias, valorizada por seu tom dourado pálido variável e sua raridade.

Como as proporções de ouro e prata variam na liga, sua cor também é variável, indo de um amarelo pálido até um amarelo brilhante. Quando produzida artificialmente, é conhecida como “Ouro Verde”.

Moeda da Lídia, Rei desconhecido, século VI a.C. Trite de Electrum (terço de estáter).
Moeda da Lídia, Rei desconhecido, século VI a.C. Trite de Electrum (terço de estáter). Imagem: Classical Numismatic Group. Licença CC BY-SA 3.0

Civilizações como os egípcios e gregos utilizavam essa liga em objetos sagrados e moedas de alto valor, conferindo-lhe um status especial entre os metais preciosos. As primeiras moedas cunhadas no Ocidente foram feitas de electrum, tendo sido batidas na Lídia, Ásia Menor, região hoje pertencente à Turquia.

Na antiguidade, a liga também era usada pelo Egípcios para cobrir o topo de pirâmides e obeliscos. Além disso, era usada na fabricação de recipientes para bebidas.

Esterlina

Entre as ligas mais conhecidas está a prata esterlina, padrão internacional para a produção de joias e pratarias. Composta por 92,5% de prata e 7,5% de cobre (925 de fino), essa liga equilibra beleza e durabilidade, permitindo que peças de uso diário resistam ao desgaste sem perder o brilho característico da prata pura. Desde talheres refinados, moedas, medalhas até instrumentos musicais, a esterlina se consolidou como a prata mais utilizada no mundo para a confecção de objetos.

Par de Jarras em Prata Esterlina, de 1732. Coleção do Ashmolean Musem, em Oxford (Inglaterra).
Par de Jarras em Prata Esterlina, de 1732. Coleção do Ashmolean Musem, em Oxford (Inglaterra).

As principais aplicações da prata esterlina incluem a fabricação de jóias diversas, talheres e utensílios de cozinha, prataria em geral, equipamentos e ferramentas médicas, cunhagem de moedas e na indústria eletrônica, entre outras.

Um problema que ocorre com a prata esterlina é que ela tem a tendência a escurecer, por conta da reação com poluentes químicos no ar, principalmente o enxofre, geralmente formando sulfeto de prata (Ag2S). O cobre presente na liga contribui para o escurecimento, pois também é reativo. Assim, quanto mais pura a liga de prata, menor o problema do escurecimento.

Platina 4TM

Composta por 80,2% de prata, 6,2% de paládio, 0,27% de ouro, 0,12% de platina e 13,21% de uma “liga proprietária”, essa liga de prata é mais resistente a riscos do que o ouro branco e ouro 14k, além de não necessitar de banho de ródio para manter seu brilho – é mais resistente ao escurecimento do que a prata esterlina.

Platina Esterlina

Platina Esterlina (Platinum Sterling) é uma marca registrada da empresa tailandesa ABI Precious Metals, e se refere a uma gama de ligas constituídas primariamente de platina e prata, com aplicação majoritária em joalheria.

Neste tipo de liga, uma parte do cobre constituinte da prata esterlina é substituído por platina, resultando em um material com maior refletividade à luz e resistência ao escurecimento (“tarnish”). De acordo com o fabricante, essas liga chegam a ser de 6 a 7,5 vezes mais resistente ao escurecimento do que a prata esterlina.

Trata-se de um alternativa ao ouro branco que não requer um banho de ródio para manter seu brilho e cor.

Em termos de composição, existem três ligas disponíveis de platina esterlina, todas com 92,5% de prata (como na prata esterlina) e quantidades variáveis de platina, com 1%, 3,5% ou 5% em cada liga. Outros elementos podem estar presentes em quantidades diminutas, como o gálio, zinco, boro ou silício.

Prata .900

Seguindo uma linha semelhante à prata esterlina, mas um pouco menos pura, a prata 900 se popularizou na cunhagem de moedas, garantindo uma liga robusta sem comprometer tanto a estética do metal. Durante séculos, essa foi a composição padrão para moedas de circulação, antes que metais mais baratos substituíssem a prata nas emissões para circulação cotidiana.

Moeda do Brasil, 2000 Réis de 1907 em prata .900, "XX GRAMMAS"
Moeda do Brasil, 2000 Réis de 1907 em prata .900, “XX GRAMMAS”

O número 900 indica a fineza da prata, significando 900 partes de prata sobre 1000 partes do material total, ou seja 900/1000 = 90% de prata pura. Sendo assim, uma onça troy de prata 900 tem, na verdade, 31,1g * 0,900 = 27,99g de prata pura.

Esta liga também é conhecida como “Prata Padrão” ou ainda “Prata de Moeda”, por conta de sua principal aplicação.

Pratas .680 e .500

Quando se trata de pureza ainda mais reduzida, tanto a prata 680 quanto a prata 500 surgem como exemplos de ligas menos nobres, mas essenciais em momentos históricos de escassez, como guerras e crises econômicas, quando a prata precisava ser esticada ao máximo, por exemplo na fabricação de moedas de circulação.

Essas ligas são mais duras e resistentes, mas com menor brilho e propensa à oxidação.

Moeda de 20 Francos da Bélgica de 1935, em Prata 680.
Moeda de 20 Francos da Bélgica de 1935, em Prata 680. Imagem: ©smy77 (CC BY-NC-SA)

Da mesma forma que com a prata 900, os números 680 e 500 indicam a fineza do metal: 680 de fino significa 68% de prata pura, e 500 de fino, 50% de prata pura (metade do material é prata e a outra metade, um metal diferente, geralmente o cobre.)

Prata de Lei

Esse é um dos tipos de prata mais conhecidos no meio de ourivesaria / joalheria, mas seu significado varia de país para país. Em geral, ele se refere à prata certificada pelo governo, garantindo que a peça atende a um padrão mínimo de pureza, geralmente 92,5% (esterlina). Essa espécie de “selo de qualidade” tem sido usado por séculos para distinguir objetos autênticos de falsificações ou ligas de menor valor.

O termo “Prata de Lei” se refere à ligas de prata com pureza mínima de 92,5% (ou seja, prata esterlina). Esse termo foi estabelecido pelo rei de Portugal, Dom Afonso II no século XIII, em um decreto-lei que determinava punição àqueles que fabricassem itens de prata com teores do metal precioso inferiores a 925 de fino.

Tanto a prata 925 quanto a prata 950 são consideradas pratas de lei.

Prata Europeia

Por fim, há a chamada prata europeia, também conhecida como Prata Continental ou Prata Francesa, um termo que pode se referir a várias ligas, mas que frequentemente designa a prata 800, usada em talheres, objetos decorativos (prataria), joalheria e na cunhagem de moedas de circulação. Menos pura que a esterlina, essa liga ainda preserva boa parte das qualidades da prata, sendo amplamente utilizada em pratarias de alto padrão.

Na prática, a prata europeia pode ser marcada como 800, 825, 830 ou 850 de fino, o que significa respectivamente 80, 82,5, 83 ou 85% de conteúdo de prata pura na liga.

Conclusão

Apresentamos algumas das principais ligas de prata empregadas em joalheria, confecção de moedas e na indústria em geral. Diversas outras ligas existem, para aplicações mais especializadas, mas as ligas aqui descritas compreendem a maior parte dos objetos fabricados com prata na atualidade.

Referências

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