Barão de Mauá na Numismática – O Primeiro Grande Industrial do Brasil
Barão de Mauá
Você certamente já ouviu falar no Barão de Mauá (ou Visconde de Mauá). Mas você sabe quem foi este homem? Qual foi sua importância para o Brasil? Quais peças numismáticas o celebram?
É dele que vamos tratar neste artigo numismático – uma breve história da vida e obra desse grande empresário e dos objetos numismáticos que o homenageiam, de moedas a medalhas.
Infância Marcada por Perdas e Novos Começos
Nascido em 28 de dezembro de 1813 na pacata vila de Nossa Senhora do Arroio Grande, onde é hoje o estado do Rio Grande do Sul, Irineu Evangelista de Sousa, mais conhecido como Barão de Mauá (e posteriormente como Visconde de Mauá), teve uma vida marcada por reviravoltas desde a infância. Aos oito anos, sofreu a perda do pai, que foi assassinado em um trágico evento.
Sua mãe, tentando refazer sua vida, se casou novamente com João Jesus, um homem que não aceitava os filhos do primeiro casamento dela, e por conta disso ela acabou confiando o jovem Irineu aos cuidados de seu tio Manuel José de Carvalho, que o levou para o interior de São Paulo.
Educação e Primeiros Passos no Mundo dos Negócios
Em meio às dificuldades, Irineu encontrou na educação um caminho para o futuro. Entre 1821 e 1823, frequentou um colégio no interior paulista, onde aprendeu a ler e escrever. Aos nove anos, mudou-se para o Rio de Janeiro para morar com outro tio, José Baptista de Carvalho, que era comandante de uma embarcação da marinha mercante. Lá, aos nove anos de idade, iniciou sua jornada no mundo dos negócios, trabalhando por indicação do tio em um estabelecimento comercial por longas horas (trabalhava das 07:00 às 22:00) em troca de moradia e alimentação.
Dedicação e Ascensão Meteórica de Mauá
Toda essa dedicação acabou rendendo bons frutos a ele. Em 1825, com apenas 11 anos de idade, conquistou um emprego na casa comercial de Antônio Pereira de Almeida, onde rapidamente se destacou. Três anos depois, com apenas 14 anos, foi promovido a caixeiro (guarda-livros), que era um cargo de grande responsabilidade na época.
Dominando o Idioma e os Negócios: A Era Carruthers
A vida de Irineu tomou um rumo decisivo quando a empresa de Almeida faliu. Recomendado por seu antigo empregador, ingressou na Companhia Inglesa Carruthers & Co., de propriedade de um negociante inglês de Liverpool de nome Richard Carruthers. Lá, Irineu mergulhou de corpo e alma em um novo universo, aprendendo inglês, contabilidade e técnicas comerciais com maestria. Sua inteligência – e muito trabalho – o levaram ao topo: aos 23 anos, já era gerente da empresa e, logo em seguida, foi elevado a sócio.
É interessante notar que, durante seu tempo na Carruthers, Irineu foi iniciado na Maçonaria pelo próprio Richard Carruthers. Essa experiência o conectou a uma rede de contatos influentes e o influenciou profundamente em seus valores e visão de negócios.
Um Pioneiro em Múltiplas Frentes
O Barão de Mauá não foi apenas um grande empresário, mas um verdadeiro visionário que queria impulsionar o Brasil para a era moderna. Sua vontade de progredir o levou a desbravar diversos setores, como as áreas dos transportes e indústria e infraestrutura.
Inovações que Transformaram a Nação
Sob sua liderança, o Brasil presenciou a introdução de inovações que remodelariam o país – ou ao menos deveriam ter remodelado. A Estrada de Ferro Mauá, inaugurada em 1854 e denominada oficialmente Imperial Companhia de Navegação a Vapor e Estrada de Ferro de Petropolis, tornou-se a primeira ferrovia em território brasileiro, conectando o Porto de Mauá, no Rio de Janeiro, à região de Petrópolis, com o objetivo principal de transportar café, um dos principais produtos exportados pelo Brasil na época.
Um Empreendedor Incansável
Porém, a mente empreendedora de Mauá não se limitou à ferrovia. Ele foi fundamental na criação de diversas outras instituições, como uma das encarnações do Banco do Brasil e a Companhia de Navegação a Vapor do Amazonas. Sua visão de futuro e capacidade de execução o colocaram na vanguarda do progresso nacional na época.
Ele não se contentou em apenas impulsionar o crescimento econômico. Também se envolveu ativamente na política, defendendo com fervor a modernização econômica do país. Sua atuação como deputado provincial e federal pelo Rio Grande do Sul foi marcada pela defesa de ideais progressistas e abolicionistas, que desafiavam o status quo da época – e lhe renderam inimigos e problemas futuros, pois essas ideias não eram bem recebidas pela elite conservadora da época.
Apesar de suas contribuições significativas para o desenvolvimento do Brasil, Mauá enfrentou dificuldades financeiras e acabou perdendo grande parte de sua fortuna. Ele faleceu em 21 de outubro de 1889, aos 75 anos de idade, em Petrópolis, Rio de Janeiro.
Ainda assim, mesmo com as dificuldades financeiras que enfrentou em seus últimos anos, o legado do Barão de Mauá ainda perdura até os dias de hoje. Ele é lembrado como um visionário que queria ajudar a transformar o Brasil em uma nação moderna e industrializada. Para mim, ele representa a busca incessante pelo progresso e a crença no potencial do Brasil. Acredito que sua história pode servir como inspiração para as futuras gerações, mostrando que, com trabalho árduo, inteligência e ousadia, é possível construir um futuro grandioso para a nossa nação.
Por isso, ele deve ser lembrado, estudado e conhecido por todos – e a numismática pode nos ajudar com isso (apesar de não ter ajudado muito até o momento), como veremos nas peças a seguir.
O Barão de Mauá na Numismática
O Barão de Mauá é celebrado na numismática brasileira em uma moeda de 200 réis que circulou entre 1936 e 1938, pertencente à série Brasileiros Ilustres, que pode ser vista na imagem abaixo:
Essa moeda tem as seguintes características:
- Valor: 200 Réis
- Data: 1936-1938
- Composição: Cupro-níquel
- Peso: 6g
- Diâmetro: 23mm
- Espessura: 1,98mm
- Alinhamento: Medalha ↑↑
- Referência: KM537
- Cunhagem total: 15.321.000 peças, sendo por ano:
- 1936: 3.028.500
- 1937: 6.505.500
- 1938: 5.787.000
- Gravador: Leopoldo Campos (CL)
- Anverso: Locomotiva a vapor, com a data acima, denominação abaixo (200 RS), CL, BRASIL
- Reverso: Retrato do Barão (e Visconde) de Mauá entre as letras MA e UÁ, CL
Já na ilustração a seguir temos um bilhete emitido pelo Banco Mauá y Cia do Uruguai, no valor de 20 pesos:
Este título, com a gravura do banqueiro estampada, funcionava como um intermediário entre um certificado bancário e moeda, substituindo o ouro em transações realizadas na região (incluindo os pampas).
Dados:
- Valor de Face: 20 Pesos
- Código de Catálogo: World Paper Money P-S277
- Emissão: 01/07/1865
- Tipo: Títulos Especializados
- Composição: Papel
- Impressão: Bradbury, Wilkinson & Co. (England) (BWC)
Medalha em homenagem ao barão de Mauá
E na figura a seguir temos uma medalha em homenagem ao Barão de Mauá, de 1906, da Companhia Luz Stearica do RJ, da qual ele foi diretor entre 1854 e 1864:
Dados gerais:
- Título: Medalha em homenagem ao barão de Mauá
- Gravador: Augusto Giorgio Girardet
- Data: 1906
- Formato: Circular
- Diâmetro: 51mm
- Material: Bronze
- Catálogos: Catálogo das Medalhas Brasileiras nº 212, Viscondessa de Cavalcanti e Kurt Prober – Catálogo de Medalhas da República.
- Direitos: Museu Imperial/Ibram/MinC
- Anverso: Efígie do Visconde com a inscrição “Barão de Mauá – 1854 – 1864”, e a assinatura do gravador “A. G. Girardet” no exergo.
- Reverso: Inscrições “Prese Julio B Ottoni – Secrº R. de Freitas lima – Diror Techº E. Grandmasson – 1906” no centro, e na orla “Compª luz Stearica – Rio de Janeiro”.
- Borda: Uma cornucópia e inscrição “Bronze”.
Conclusão
Irineu Evangelista de Sousa, o Barão de Mauá, não foi apenas um homem de seu tempo, mas um visionário que projetou sua mente para o futuro. Sua história, marcada por conquistas extraordinárias, desafios implacáveis e alguns fracassos, nos oferece um legado inestimável de aprendizado e inspiração.
Porém, apesar de sua grande importância para o início da industrialização do Brasil, o Visconde de Mauá tem sua história pouco conhecida pelo povo brasileiro, e é raramente representado em nossa numismática. Sua única aparição em moedas se deu na série Brasileiros Ilustres, na segunda metade da década de 1930, portanto há quase 100 anos.
Não estaria na hora de homenageá-lo com uma moeda comemorativa especial?
Referências
- RUSSO, A. O Livro das Moedas do Brasil. 2ª Edição
- CALDEIRA, J. Mauá: empresário do império. Companhia das Letras, 1ª edição. 1995