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O que é uma Moeda Bimetálica?

O que é uma Moeda Bimetálica?

Uma moeda bimetálica é uma moeda constituída por dois metais ou ligas, geralmente contendo um centro (núcleo) de um material e um anel externo de outro. Também são moedas bimetálicas as moedas constituídas por um disco de metal revestido por uma camada de outro metal; chamamos comumente a essas moedas de “clad“.

Neste artigo darei ênfase às moedas bimetálicas que mostram claramente a separação entre os materiais – ou seja, as moedas que possuem um núcleo e um anel que o circunda, e as moedas clad serão tratadas brevemente, com aprofundamento em outro artigo.

A primeira moeda bimetálica moderna

A primeira moeda circulante moderna bimetálica cunhada foi uma moeda de 500 liras italianas, emitida em 1982, até 2001. Anteriormente, outras moedas e medalhas feitas de dois metais ou ligas já haviam sido cunhadas, porém de forma muito ocasional ou até mesmo não-oficial. Alguns exemplos incluem determinados medalhões fabricados nos tempos do Império Romano, feitos de bronze e orichalcum, e algumas moedas inglesas chamadas de “farthings” no final do século XVII, feitas de estanho e cobre.

500 liras da Itália, primeira moeda bimetálica moderna.Imagem: © Numista (CC BY)
500 liras da Itália, primeira moeda bimetálica moderna. Imagem: © Numista (CC BY)

Exemplos de moedas bimetálicas

A seguir alguns exemplos de moedas bimetálicas variadas, de diversos países do mundo:

2 Libras da Inglaterra, comemorativa Ada Lovelace (1ª programadora da história). Bimetálica com núcleo de cuproníquel em anel de latão de níquel.
2 Libras da Inglaterra de 2023, comemorativa Ada Lovelace (1ª programadora da história). Bimetálica com núcleo de cuproníquel em anel de latão de níquel.
© The Royal Mint

 

1 Bolívar da Venezuela. Bimetálica com núcleo de cuproníquel em um anel de bronze alumínio.
1 Bolívar da Venezuela. Bimetálica com núcleo de cuproníquel em um anel de bronze alumínio.

 

10 euros do Vaticano 2025, Papa Bonifácio VIII anunciando o Jubileu do ano 1300. Bimetálica com núcleo de prata 916,7 e anel de cobre.
10 euros do Vaticano 2025, Papa Bonifácio VIII anunciando o Jubileu do ano 1300. Bimetálica com núcleo de prata 916,7 e anel de cobre.
© Ufficio Filatelico Numismatico Vaticano

 

25 euros da Áustria de 2015, comemorativa "Cosmologia", bimetálica com núcleo de nióbio e anel em prata 900.
25 euros da Áustria de 2015, comemorativa “Cosmologia”, bimetálica com núcleo de nióbio e anel em prata 900.
© Münze Österreich AG

 

1 Real do Brasil, bimetálica com núcleo de aço inoxidável em anel de aço banhado a bronze.
1 Real do Brasil. Bimetálica com núcleo de aço inoxidável em anel de aço banhado em bronze (a partir de 2002).

 

10 Yuan da China, comemorativa do Trem de Alta Velocidade. Bimetálica com núcleo de cuproníquel e anel de latão.
10 Yuan da China, comemorativa do Trem de Alta Velocidade. Bimetálica com núcleo de cuproníquel e anel de latão.

Moedas clad

Moedas “clad” (revestidas) são moedas compostas feitas de múltiplas camadas de diferentes metais unidas. A palavra “clad” se refere a essa construção em camadas, onde um metal de núcleo é revestido por camadas externas de um metal ou liga diferente.

Moedas são geralmente cunhadas dessa forma principalmente por economia, pois essa técnica permite que as casas da moeda usem metais de núcleo menos valiosos, mantendo uma aparência e peso desejáveis com as camadas externas de material mais valioso ou vistoso.

Além disso, as camadas externas, muitas vezes uma liga de cuproníquel, bronze-aluminio ou outra liga, são resistentes ao desgaste e à corrosão, prolongando a vida útil das moedas em circulação.

Exemplos comuns incluem as moedas de dez centavos (dimes), vinte e cinco centavos (quarters) e cinquenta centavos (half dollars) de dólar dos EUA cunhadas após 1965, que possuem um núcleo de cobre com camadas externas de uma liga de cuproníquel.

Moeda de 10 cents dos EUA (1 dime) de 2017
10 cents dos EUA (1 dime) de 2017. Cobre revestido de cuproníquel (clad). © brismike (CC BY-NC)

Como são produzidas as moedas bimetálicas?

A produção de uma moeda bimetálica envolve um processo técnico bastante preciso, que exige equipamentos específicos para unir duas partes metálicas diferentes — geralmente um para o núcleo central (miolo) e outro para o anel externo (aro).

No geral, o processo de fabricação segue as seguintes etapas:

1. Preparação dos blanks (discos metálicos)
Antes da união, os dois componentes são produzidos separadamente.

O miolo é cortado em forma de disco a partir de uma chapa de metal (por exemplo, bronze-alumínio ou níquel-latão).

O anel externo também é cortado a partir de outra liga metálica, como aço revestido ou cuproníquel, com um orifício central do tamanho exato do núcleo.

Esses discos são chamados de blanks.

2. Montagem do blank bimetálico
Os dois componentes são montados mecanicamente, geralmente de forma manual ou semiautomática nos primeiros testes. O núcleo é inserido no anel e posicionados juntos em uma matriz especial.

Importante: ainda não estão unidos de forma permanente nesse momento — o encaixe é apenas posicional.

3. Cunhagem (moagem com pressão)
A união definitiva acontece no momento da cunhagem, quando o conjunto é submetido a uma forte pressão entre os cunhos do anverso e reverso.

Essa pressão elevada provoca:

  • A expansão do miolo, que se encaixa firmemente no anel;
  • A compressão do aro, que se molda ao núcleo, criando uma fixação mecânica resistente;
  • E a gravação simultânea do design nos dois lados da moeda.

O encaixe é tão ajustado que, mesmo sem adesivo ou solda, a separação das partes torna-se extremamente difícil.

4. Controle de qualidade
Finalmente, cada moeda passa por inspeções automáticas ou manuais. Nesta etapa são verificados:

  • O alinhamento correto entre os dois metais
  • A nitidez das gravuras
  • A firmeza do encaixe

Quaisquer peças que apresentem imperfeições devem ser descartadas.

Processo de cunhagem de uma moeda bimetálica
Infográfico: Processo de cunhagem de uma moeda bimetálica.

E o que é Bimetalismo?

Bimetalismo é um sistema monetário no qual o valor da unidade monetária é definido em termos de uma quantidade fixa de dois metais preciosos diferentes, tipicamente ouro e prata, estabelecendo uma taxa de câmbio fixa entre eles. Em outras palavras, a moeda de um país era lastreada tanto em ouro quanto em prata, e havia uma proporção legalmente definida entre o valor dos dois metais.

Hoje, o bimetalismo é principalmente de interesse histórico no estudo da economia monetária. O sistema monetário global atual é baseado em moedas fiduciárias, cujo valor não é intrinsecamente ligado a metais preciosos (sem lastro).

Note que bimetalismo é um conceito diferente da moeda bimetálica tratada neste artigo:

  • Bimetalismo é o sistema monetário. É a organização de um sistema de dinheiro onde o valor da unidade monetária é definido em termos de uma quantidade fixa de dois metais preciosos, como citado acima, com uma taxa de câmbio legalmente estabelecida entre eles.
    É a política ou o padrão monetário adotado por um governo ou país.
  • Já a moeda bimetálica é um tipo específico de moeda física, feita de dois metais ou ligas diferentes, geralmente dispostos com um anel externo de um metal e um centro de outro metal, com cores contrastantes. Essas moedas são cunhadas para circulação ou como itens colecionáveis.

Existem moedas com mais de dois metais?

Sim, moedas com mais de dois metais ou duas partes metálicas distintas (trimetálicas ou multimetálicas) existem, apesar de serem muito menos comuns do que as moedas monometálicas (feitas de um único metal ou liga) ou bimetálicas (feitas de dois metais ou ligas).

Alguns exemplos incluem as moedas trimetálicas francesas de 20 francos emitidas em 1992 e 1994. Essas moedas tinham um núcleo de cobre-alumínio-níquel, um anel interno de níquel e um anel externo de cobre-alumínio-níquel. Tecnicamente, são moedas bimetálicas (dois metais ou ligas diferentes), mas com esses materiais dispostos em três partes distintas da moeda.

20 Francos da França, de 1994, moeda trimetálica
20 Francos da França, de 1994. Moeda trimetálica com um núcleo de cobre-alumínio-níquel, anel interno de níquel mais um anel externo de cobre-alumínio-níquel.
Anverso © nordboutik59 – Reverso © Jérémy Pureur

O Principado de Mônaco também emitiu moedas trimetálicas de 20 francos em conjunto com a França em 1992.

Conclusão

Neste artigo apresentei as moedas bimetálicas, muito comuns na cunhagem de vários países do mundo, inclusive no Brasil, onde a principal moeda – R$ 1,00 – é uma peça bimetálica com núcleo e anel externo de materiais distintos. As moedas desse tipo são, inclusive, tema de coleção específica: há quem colecione exclusivamente moedas bimetálicas do mundo.

Vimos como as moedas bimetálicas são fabricadas, o que são moedas trimetálicas, e a diferença entre os termos “moeda bimetálica” e “bimetalismo”, além de visualizarmos alguns exemplos dessas belas peças, feitas em metais e ligas das mais variadas.

Perguntas e respostas

Qual a relação entre moeda bimetálica e bimetalismo?

Bimetalismo é o sistema monetário que define o valor da moeda em relação a dois metais preciosos, geralmente o ouro e a prata. Moeda bimetálica é uma moeda física fabricada com dois metais ou ligas diferentes, em partes distintas da moeda.

O que é uma moeda bimetálica?

Moeda composta por dois metais ou ligas metálicas distintas, geralmente um formando o núcleo (miolo) e outro um anel externo, unidos durante o processo de cunhagem para formar uma única peça.

O que é uma moeda trimetálica?

Moeda que utiliza três metais ou ligas diferentes em sua composição, geralmente em camadas ou seções visíveis, com o objetivo de reforçar a segurança e criar um design mais atraente para a peça.

Qual foi a primeira moeda bimetálica moderna?

A primeira moeda bimetálica moderna foi emitida pela Itália em 1982, com valor de 500 liras, apresentando centro de bronze-alumínio e um anel de aço inoxidável.

 

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